21 fevereiro 2006

Atenção:

Aos meus amigos, que conhecem a minha posição atual sobre determinados temas, peço que não estranhem alguns poemas abaixo. Na verdade, foram escritos antes do meu retorno ao Cristianismo e só resolvi publicá-los por questões meramente literárias.

20 fevereiro 2006

SEJA BEM VINDO!!!




Muito obrigado pela sua visita. Peço que deixe um pequeno comentário sobre o que achou.

Este blog foi republicado por problemas no anterior. Os anteriores comentários foram, portato, excluídos. Por isso, solicito novos "coments".

Dedico este blog aos meus amigos e conterrâneos canaenses, principalmente àqueles que têm manifestado a sua boa índole e amizade. Também aos meus amigos de outras cidades, sem descriminação.

Muito obrigado!

Aprendendo...


Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.
E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança.
E começa a aprender que beijos não são contratos e presentes não são promessas.
E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante, com a raça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.
E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.
Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.
E aprende que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam...
E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.
Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.
Descobre que se leva anos para se construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá pelo resto da vida.
Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer mesmo a longas distâncias.
E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida.
E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
Aprende que não temos que mudar de amigos se compreendemos que os amigos mudam, percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos.
Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.
Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós, mas nós somos responsáveis por nós mesmos.
Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que pode ser.
Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser, e que o tempo é curto.
Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo, mas se você não sabe para onde está indo, qualquer caminho serve.
Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade, pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados.
Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer, enfrentando as conseqüências.
Aprende que paciência requer muita prática.
Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.
Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência que se teve e o que você aprendeu com elas do que com quantos aniversários você celebrou.
Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.
Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.
Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama com tudo o que pode, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso.
Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.
Aprende que com a mesma severidade com que julga, você será em algum momento condenado.
Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára para que você o conserte.
Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.
Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.
E você aprende que realmente pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e que você tem valor diante da vida!
Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.

William Shakespeare

LINKS INTERESSANTES

Élder Oliveira - Página pessoal do grande poeta baiano. Muito bom!!!
Mulheres que Amo - Coletânea de poesias escritas por mulheres. Excelentes poesias.
NOVA CANAÃ, BAHIA, BRASIL - Blog do Município de Nova Canaã, Bahia. Contém hino, brasão, história, literaturas, fotos, etc.

PREFÁCIO


Marcos Martins, jovem poeta, sonhador, realista e lúcido. Lúcido até onde a loucura da poética permite e ela tudo pode.

Foi-se da cidade natal em busca de horizontes mais amplos, ainda que não tão verdes, mas nela deixou raízes tão profundas que sempre se lhe reporta e se revolta contra as injustiças feitas a sua gente.

Rima. E, no reverso da sua rima constatamos o seu mundo, suas origens, seus amores, seus sonhos... ENSAIOS POÉTICOS é o prisma obscuro, escondido, que Marcos tem pudor em revelar a um mundo tão diferente do que estava habituado a se mostrar.

Mas agora, para Marcos, abriu-se a cortina e nos atos que se seguem, são mostradas cenas que lhe traduzem um mundo que ele nunca viu, nem pensara existir. Um mundo novo, problemático, traidor, desonesto, mau e ao mesmo tempo lindo, bom, cheio de imagens criadas no inconsciente coletivo que são resgatadas e reveladas nos seus poemas com a poesia de um poeta maior, indignando-se sempre, acomodando-se jamais.

Poeta da virada do milênio, de uma nova era, cheio de contradições e interações tecnológicas, buscando o novo sem descartar o antigo.

Cumpre, enfim, a missão do poeta que vai além da poesia, passando para o mundo, com a arte da palavra, que ele sabe adornar com maestria e conhecimento de quem já viveu muitos anos mais que a sua idade cronológica.

Que mais posso falar senão que vai, Marcos, vai ser poeta na vida!



Profª. Fátima Madureira
Bacharela em Letras Vernáculas pela
Universidade Estadual da Bahia – UNEB.

UM POUCO DE MIM



Nasci na cidade de Iguaí/BA, há poucos anos atrás. Sou filho do seu Bena (Ebenézer de Oliveira Martins) e da professora Lai (Alaíde Lima Freire) e tenho seis irmãos: Estela, Leide, Júnior, Paulo, Marize e Rosinha.
Com cerca de dois anos, fui morar com os meus pais em Recife/PE, no Bairro da Iputinga, onde residi até os oito anos de idade. Depois, voltamos à Bahia, morando inicialmente em Iguaí, mas, devido às nossas dificuldades financeiras, mudamo-nos (eu, meus irmãos e a minha mãe) para uma terra prometida: a Nova Canaã (= Terra de Gente Boa), interiorzinho baiano, cidade fundada por cristãos batistas, próxima a Iguaí. Meu pai só foi morar lá depois de alguns anos trabalhando em Januária/MG.
Foi em Canaã que tive os meus primeiros contatos com os livros, aos quais aprendi amar. Em meados da década de 80, fui morar em Salvador, Capital baiana. Foi uma maravilha! Lá comecei a escrever os meus primeiros versos, a maior parte perdida nas folhas dos cadernos dos tempos áureos de faculdade. Formei em Direito pela UFBA e voltei a Nova Canaã com o sonho de ajudar a minha gente. Por força do destino, fui morar em Guanambi/BA e, menos de um ano após, aportei a minha nau em Vitória da Conquista/BA (onde não há mar, nem rio, nem porto...).
Em Conquista me casei com a Ana, para quem eu escrevi mais de quarenta poesias durante os quatro anos e meio em que convivemos juntos (grande parte delas está publicado aqui). Durante esse tempo, ela me deu um filho, o Sammuel, que é a cara do pai, porém bonito como a mãe. Nós nos separamos. Entretanto, fui durante esse tempo de reconstrução da minha vida que escrevi uns poucos poemas, que considero alguns dos melhores.
Gostaria de dizer que não me considero escritor, apenas a parca sombra de um ensaio de ajudante de poeta. Isso, no entanto, não me impede de divulgar as minhas singelas obras. Só espero que alguém goste.
Um forte abraço e muito obrigado.
(Marcos A. F. Martins)

Parte 1

SONETOS PARA UMA GERAÇÃO POETICAMENTE INCRÉDULA


SONHO DE UMA NOITE DE INVERNO
(Homenagem a Mário Quintana)

Uma procissão de espantalhos
daquelas que falou Quintana
só que nesta todos sorriam
e as suas expressões eram mágicas.

Seguia por todos os caminhos
por todas as ruas, sem atalho
aos homens saudava com música
com flores, damas e pirralhos...

Pelos bairros e guetos ia
levando palavras de amor
aos pobres, aos negros e aos párias.

Aquela procissão, senhores,
era um exército de infantes
e meninos da Candelária.




SONETO DA EXISTÊNCIA TOTAL

Escrevo com letras trêmulas
A caneta na mão insegura
E o pensamento vagando arredio
Em busca de uma nova poesia.

Escrevo... Logo, existo!
Poeticamente falando, existo
Tão avidamente como um soneto
Ardendo no coração como a chama da saudade...

Escrevo... Logo, sou poeta
Um trapezista das letras e da arte
Exibindo-me para ti a troco de poucas moedas.

Escrevo... Logo, te amo
Eu falo-te através das flores
e canto toadas ao som do piano...




SONETO DO VIVER TOTAL

A vida que hoje vivo – como Paulo
Já não vivo mais por mim mesmo
Vivo porque corre sangue nas minhas veias poéticas
E o coração pulsa ao ritmo de um soneto...

Já não vivo mais na minha carne
Vivo de viver uma fantasia
Como o sol que nasce diariamente
E morre, lançando sobre nós raios de ilibada poesia...

A vida que agora vivo
Não é em vão como estas palavras
Nem tão forte como o teu olhar...

A vida que ora vivo
Tão suavemente como a morte
Vivo-a por ti, vivo-a por sorte...




SONETO DA PAZ

Vou escrever-te uma poesia
vou cantar-te em verso e prosa
vou falar da tua beleza
como se fala da rosa.

Vou medir a tua formosura
com trovas de rimas métricas
e em quilômetros de versos
vou recitar a minha prédica.

‘Inda vou gritar ao mundo
falar gíria camoniana
dizer a todo romântico

que nos maus tempos de guerra
certamente a tua poesia
será a única saída bélica...





SONETO DAS FORÇAS POÉTICAS JURIDICAMENTE ANTAGÔNICAS
(ou do infanticídio poético)

Há em mim uma ação centrífuga
e uma força centrípeta
que agem como um paralelismo jurídico
tal qual a necessidade de norma para criar e extinguir.

Há em mim um bem e o mal
um militando contra o outro
como a ordem jurídica e a falta de lei
que me fazem um ser paradoxal.

Há em mim um magistrado jocoso
e um delinqüente nato
como positivado por Lombroso.

Há em mim um bardo e um desvairado
que gera heroicamente a poesia
e a mata em estado puerperal...




A PENUMBRA


Jaz o dia numa caixa de mistério
Suave, vejo a penumbra abrir suas asas:
O som, a luz, o dom... é tudo etéreo.
Só um vaga-lume a vencer as trevas.

Adormece a noite como uma seda
Nada absolutamente a me enganar
Só uma vaga luz enfeita os meus
tristonhos olhos... Quão tenra alegria!

Novamente, falta-me a rima amiga...
Desta vez, fogem-se também os versos...
Sou forte, mas não quero morrer ainda.

Senti o sol clarear teu áureo sorriso
Agora, sou tal Mohamed Ali
E anjos velam meus sonhos de menino...




BRILHO PLEONÁSTICO


Brilha o sol limpidamente
como um poema de Cecília
brilha manhã intensifica
amor calor vivifica.

Como nuvem de plumagem
brilha o cristal nessa imagem
brilha o brilho o sol rebrilha
- sonhar é voar de carruagem!

Passarinho na janela
a aurora cantada canta
o raio a luz a vida encanta.

Sol que redundante brilha
brinca no azul azulado
brilha com brilho pleonástico.




SONETO DE SE AMAR

Gostaria de escrever-te um soneto
Mas o que é a poesia em versos compostos?
Cada quarteto e cada terceto
Não passam de um amor obsoleto.

Porém, se é amor, há de ser amado
Ainda que seja me-tri-fi-ca-do
Ou até mesmo se a poesia concreta
Tiver seus versos petrificados.

Mas há de ser um eterno amado
Mesmo que não for metrificado
Pois nem todo obsoleto é passado.

Mas será ele eternamente amado
Posto que no Poeta apaixonado
Não haverá coração empedrado.




O PEQUENO MUNDO

Viajo por um pequeno mundo
Onde há encantos e aventuras
E o tempo é o mais fiel companheiro
- Janela aberta da cultura.

Tenho por leal amigo um “hobby”
Linhagem da pura realeza
É das artes a mais completa
Das ciências a de maior beleza.

Decerto no amigo ainda encontro
Outros das mais altas valias:
- homens, mulheres, reis e rainhas...

Acervo de sabedoria
O mais sublime passatempo,
de todos, é a filatelia.




AS PORTAS


Há uma porta onde nunca passei
Dentro da velha casa assombrada
E se dará acesso às veias abertas
da América Latina... Não sei!

Há outra porta por onde entrei
De onde sair não mais conseguirei
Pois lá vivo com portento ou então
me caso com a filha do rei!

Portas se abrem (portas que se fecham)
Portas dão acesso a um esconderijo
Outras tantas a lugar nenhum.

Há uma porta envolta em seus umbrais
Em que se abre em módica dosagem
O caminho que nos leva à paz.




AS JANELAS

Das janelas se vê o horizonte
Vê-se também as belas morenas
Que vêm e vão como as ondas do mar
E o vento que agita as suas melenas.

Das janelas se vê a vida e a morte
O leiteiro puxando a carroça
Um homem vestido à moda antiga
E a chuva que nos pega à socapa.

As janelas anunciam a aurora
Anunciam também o ocaso e a noite
E as vidas que se cruzam opacas...

São janelas que se abrem ao mundo
E deixam penetrar o fulgor-
do-sol-na-casa-meio-moribunda.




FÃ-CLUBE I (ou Vaga Poesia)

Brincar com as palavras
Tecer as rendas da poesia
Formar as frases:
Luz do sol para o dia...

Brincar com as letras
Formar a linha do horizonte
Montar a rima:
Ouro em pó na mina...

Brincar com teu sorriso
Tecer a teia das palavras:
Rendas de ouro e de prata...

Brincar no teu ninho
Passeio nos teus lábios:
A flor e o passarinho...



OS OLHOS DE DENNY

Os olhos de Denny são um tanto
E um pouco mais demais eclíptico
Mas ainda assim eu sei, no entanto,
ternura realçam, verdes encantos.

O seu olhar diz sabe-se o quê
Tal mistério vou desvendar
No meigo sorriso que encena
O lindo rosto da pequena.

Como um exímio beija-flor
O meu pensamento tão lírico
Vagueia no seu épico compor.

Como uma borboleta tímida
O meu olhar de menino vadio
Pousa vago nesse vazio...


SONETO DO DESEJO

Eu quis escrever-te um verso
Nas linhas do horizonte
Porém, a dor do reverso
Impediu-me de ir adiante.

Eu quis pintar-te em mil cores
Pitorescas grutas mágicas
Sofri as dores das flores
Que é como sofrer nada.

Eu quis querer-te querida
Nos garços vergéis floridos...
Ter-te, como quem tem vida.

Eu quis saber te amar...
Mas o homem que eu sou
Esqueceu que tu és flor.



SÃ-POESIA I


Dorme a inocência
o infante soldado
a infantaria tenra
o pequeno amado...

Dorme o bravo cândido
um inócuo gigante
o menino forte
a malícia puericial...

Dorme o sonho:
a senha anseia o som
um novo sentido...

Dorme um sonho
a nobreza poente
o puro poeta somente...



GLOBALIZAÇÃO

Haveremos de nos lembrar da mata atlântica
Destruída nas nascentes dos rios
Das casas de taipa onde nos amamos
Nos tempos de Perdidos no Espaço e panteras cor-de-rosa.

Haveremos de cantar um hino à bandeira
E as Preparações para a Morte, de Bandeira
Recordaremos os Segredos de Taquarapoca
Enquanto um Peter Parker impõe-nos a soberania americana.

Haveremos de sorrir cinicamente
Dos heróis do 31 de março
Enquanto alienígenas nos oprimem nos estádios de futebol.

Haveremos de chorar nas Elegias
A morte de milhões de famélicos
Enquanto o mundo aplaude o crescimento da nossa economia.



URBANIZAÇÃO

Há poesia nos pára-lamas dos caminhões
nas placas de anúncios, nos outdoors
nas fachadas das casas
e nas ruas com paralelepípedos.

Há poesia nas esquinas, nos cruzamentos
nas transas das pessoas nas calçadas
nos sinais vermelhos que contêm o trânsito
e no fluxo de pedestres nas alamedas.

Há uma epopéia urbana dentro de mim
nas árvores que contrastam com o concreto
nos decretos dos alcaides e no deserto dos sobrados...

Há uma urbanização na zona rural
na idiossincrasia urbana dos peregrinos
e nas tabas dos índios no meio da mata.



ELUCIDAÇÃO

Meu olhar decididamente perdido
nada tem de desvario, nada tem
a não ser um leve delírio doméstico
de capturar em ti o meu desatino poético.

Nada tem de torto o meu olhar, nada tem
exceto um parco estrabismo poético
indecisamente perdido, como a minha falação
obstinado em captar em ti essa ardente elucubração.

Nada tem de desvario o meu olhar louco
nada tem, de tão torto, nada tem
nada tem de tão pouco, nada tem...

Nada tem de tão forte meu olhar arrependido
de tão frágil, bem assim, nada tem, nada tem
nada, além da vontade de vagar confundido, nada tem...




SONETO DE ELUZAI

Os teus passos de tango argentino
o teu tão doce olhar – simples e feminino
que me arrebatam os sentimentos
tão pueris, de tão menino.

Os teus lábios de róseas sedas
e estes olhos, os olhos teus – doces como pêra
onde o lastro reluz o resplendor
de tantas sobras, de poucas perdas.

A tua pele lisa, de tão lisa
nenhuma outra tem, nenhuma delas:
nem Elis, nem Elisângela e nem Elisa.

Com tuas mãos tão pequenas, Eluzai

somente a mim afagas, minha fada
e dentre todas tu sobressais, querida.





ELEIÇÃO

Se eu for o teu eleito, Eluzai
certamente não haverão mais flores
e nem mais pássaros na praça
quanto o ultimado dia de ontem...

Se eu for o teu eleito, menina
quiçá as pessoas sequer perceberão
a força dessa tua decisão
refletida como um espelho no meu sorriso...

Ah! Mas se eu for o teu eleito
sem dúvidas cantarei nos meus hinos
a história desse amor quase desapercebido.

Assim, se for eu o teu eleito, querida
nada, absolutamente nada será diferente
a não ser o dia que nascerá ao avesso...



AMOR BANDOLEIRO

O amor com que simulas me amar
o disfarce com que te amo sem te amar
o elo, a eloqüência, a elegia
e um jarro de flores que nada nos diz.

O amor com que me fundes a tua burla
a fundação com que te iludo o meu amar
o corpo, a cópula, o copo-de-leite
e um opúsculo que nunca conta a nossa história.

A vida que te escrevo à dura pena
os olhos com que vivo o teu olhar
e esse vinho com que tu roubas a cena:

do amor que é pra ser fingido
da poesia que é pra ser vivida
e da vida que nunca vale a pena...






OS OLHOS DE ELIENAI

Os teus olhos, Elienai, cerúleos como o mar
traduzem-me um aguçado impressionismo
– à semelhança de Oscar-Claude Monet –
dentro de uma realidade meramente devaneadora.

Ah, fortes olhos teus, tal à rosa
tão inebriantes quanto o vinho
o vinho que ainda resta no copo
quando já estou farto de tanto bebê-lo.

Os teus olhos, doces como a manga
mais se parecem com o lápis-lazúli
na clareza com que o delineia a luz do dia.

E os sorumbáticos olhos meus, como o nada
se parecem apenas com a chuva fria
quando espreitam os olhos teus numa fotografia...




CANTO DE ANIVERSÁRIO

Os anos vão passando, os tempos,
as eras, os séculos, as gerações...
Chegam as rugas, cabelos caem,
ficam as lembranças, os sonhos, os ideais...

Envelhecemos com o tempo.
Ele, que não se avilta nem se exalta,
vai passando, como o trem na estação:
passa, passa... e não volta jamais.

Voltam as modas, os usos, as rodas de amigos,
as cantigas de roda... Porém vão-se as eras,
forma-se a história, ficam as memórias...

Passa o tempo, vemo-nos envelhecer,
o trem volta, costumes voltam... O tempo não!
Mas sempre fica o anseio de dizer: parabéns a você!




OSSOS SECOS

Não restará de mim, senão ossos secos.
Os meus olhos, as minhas mãos,
a minha boca... Nada, senão ossos secos
e o pó que o vento espalhará pelas campinas.

Das minhas poesias ninguém se lembrará
nem de quem eu fui, não haverá memórias
e não sobrará de mim senão a ossada seca
amontoada entre ossaturas desconhecidas.

O meu intelecto e a minha sandice
os meus sonhos de criança e as meninices
nada, simplesmente nada, além de ossos secos.

O meu amor por ti, senhora, esse restará
cantado em versos por outros pássaros-poetas,
o meu amor por ti (e ossos secos)... Sim, ficará!




A POESIA

Poesia que não nasce do labor, como o parto

E nem surge da força, como o pão

Poesia que apenas vem, como o vento

Poesia que apenas se vai com o verão.


Poesia que se forma de estrofes e versos

Poesia que se deforma em guerra e amor

Poesia que não se colhe da lavra e da ceifa

Poesia que se escreve com sangue e com dor.


Poesia que se leva à fartura para a mesa

Poesia que se serve como refeição

Poesia que se reza, se come e se rejeita:


Poesia que se abomina e se corteja

Poesia que se cala e de quem se comenta

Poesia que apenas se vive, se apregoa e se deseja...

Parte 2


O LADO NEGRO DA LUA E OUTROS POEMAS


O LADO NEGRO DA LUA I

Não me chames de poeta
(não quero a túnica de Nesso)
as estrelas são menos solitárias
nas areias do Abaeté.

Minha companheira Lua:
- Porque te encobres de nuvens
se em algum instante
os meus olhos te vêem inteiramente nua?

Ainda ontem te escrevi alguns versos
E, como quem gosta de Caetanear,
Não cantei nada mais bacana...
Preferi “a indústria-cultural-na-realidade-tipicamente-urbana”.

O que adiantaria falar-te dos meus amores?
(Tudo, ademais, seria hipocrisia)
nem sempre a vida imita a arte
nem sempre a tua luz se reflete na poesia.


Do presente gosto mais...
Águas passadas são como chamas apagadas:
não movem moinhos
nem fazem carnavais.

Em Itapuã cada coqueiro tem uma sombra
cada sombra é fruto da tua nostalgia
e a aurora acima do mar
faz de ti, dia a dia, nova e eternamente fugidia.

Não roubes mais a luz do rei
o teu espelho é o mar
e entre tantos versos e prosas
o poeta pega carona no trio elétrico de Dodô e Osmar.

Hoje, na Bahia, o pôr do sol
no alto de Ondina
e nos olhos da menina
anuncia uma realidade insipidamente pitoresca e feminina.


À MINHA MÃE SEREI GRATO

A ti minha mãe, hoje e sempre
serei grato
infinitamente grato
aqui, agora, com toda ternura
e com amor
eternamente com amor
serei grato...
e mesmo na saúde ou na enfermidade
na pobreza e na riqueza
na alegria e na tristeza
na razão e na emoção
perante Deus e os homens
a ti serei grato...
e na vida ou na morte
na aurora ou no ocaso
no sucesso ou no fracasso
na mocidade e na velhice
a ti, por tudo e tanto
e por um pouco mais
e sem “entretantos”
a cada dia
serei grato...
E não haverá palavras no mundo
que possam te dizer
mais e mais
e ainda um tanto mais
com tal desvelo
diante do tudo e do nada
do sim e do não
que sempre serei grato
a Deus e a ti
por seres a minha mãe.




AURORA

O sol, como um ladrão,
chegou sorrateiramente...
e invadiu a casa,
os olhos e o coração.

A vida, como o calor,
veio abundantemente...
e fez brotar a rosa,
a prosa e o amor.

E a poesia, como uma melodia,
nasceu assim... de euforia:
e encheu a praça,
a alma e o dia.


OCASO

Quero mais um trago do teu cigarro
Quero mais um gole do teu veneno
Eu posso arder no calor do teu corpo
Mas quero morrer um tanto sereno

Não me deixes lançar mão da tua espada
Eu posso ferir-te nos meus intentos
Quero ficar sozinho nesta estrada
Mas quero morrer um pouco sedento.

Quero morrer de viver para ti
Quero viver de morrer para mim
Eu posso ressuscitar ao meio-dia
Mas ‘inda quero morrer mesmo assim.

Não me deixes roubar as tuas palavras
Eu posso matar-te em meus sentimentos
Não posso voar nos teus sonhos adentro
Mas quero morrer sempre sonolento.


Quero morrer de brincar de viver
Quero viver de brincar de morrer
Eu posso renascer ao pôr-do-sol
Mas quero morrer de tanto prazer.

Eu quero mais um trago do teu fôlego
E quero mais um gole do teu sangue
Eu posso sentir o gelo da tu’alma
Mas quero morrer assim... como Ghandi.



POESIA DE FUMAÇA

Escrevo uma poesia no céu
Mensagem de fumaça
Para que todas as crianças leiam
E a minha mãe veja através da vidraça.

A poesia fala de paz:
Uma rua estreita por onde trilham,
em guerra, inocentes infantes,
pequenos generais.

A poesia sobe em forma de fumaça
ofusca os gananciosos que,
de tão ricos, são pobres
e, cegos, semeiam a desgraça.

A fumaça sobe em forma de poesia.
Sei que muitos não podem lê-la,
Mas, um dia...
- Ah, quem sabe um dia?



MARAMAR

Sol e mar
Mar amar
De praia a praia
De mar a mar
Verão e férias
Mara amar
Sombra dos coqueiros
Sombra do luar
Vidas unidas
Em torno do mar
O ar que refresca
O mar para amar
O vento que sopra
As ondas do mar
As vidas que se unem
Só para amar
No mar...


O LADO NEGRO DA LUA II

Ah, Lua, Lua...
Que bailas no palco celeste:
- branca, nua e crua.
És estrela, Lua!
És atriz na minha rua
E brilhas infinita na minha vida
E brilho às vezes na tua.

Vê, minha amiga Lua:
Em Salvador o Poeta ainda
estende os seus braços
Os negros ainda são escravizados
Mas ninguém observa como navegas em mim
Mas ninguém vê como em mim tu flutuas.

Ah, Lua:
Por que tenho um coração ferido à espada
Quando melhor seria feri-lo à pua?
Mas aquieta-te minha amiga:
Um dia a alva será somente minha
E tu serás eternamente sua.



SERENATA DO VIOLEIRO

Vou viajando noite adentro
Violeiro de trovas métricas
Lançado rimas espessas
Que tu escutas da janela.

A chuva esconde uma lágrima
A rosa exala o perfume
Que do teu corpo se extrai
Deixando as marcas do ciúme.

Vou viajando sonho adentro
Poetizando o teu sorriso
Trovador de rimas métricas
Que se escuta da janela.

Nas letras te faço em arte
Na arte te transformo em música
Violando todo o silêncio
Que da praça ainda se escuta.


Vou viajando poesia adentro
Sonhador de rimas métricas
Ao som de trovas espessas
Que não escutas da janela.



CINZAS, CERVEJAS E AMOR

As cinzas definem
o que resulta do fogo...
ou do amor.

Copos de cerveja na mesa.
O bar – nosso recanto
onde nem sempre a embriaguês
é o ópio da alma.

Uma anciã na janela
espia o beijo
a mão travessa
o trago, o gole.

A poesia surge
de forma louca:
no olhar com que te miro
nos lábios com que te beijo
na língua com que te sinto
na minha voz rouca...



Eu só queria te contar
como a saudade
essa impiedosa saudade
estacionou em mim
em noite de lua cheia.



A LÍNGUA


Entre poesias, cantos e trovas
O amor me vem como prova
De Alencar, Machado e Rosa.
Ela é, quiçá, escandalosa
Meio abundante
Meio caótica
Absolutamente engenhosa.

Falo da Língua
De raças mil
Da crença, da graça
Como que ofuscado pela fumaça
Dessa imensidão de cores.
Sendo dinâmica
Ela é lusa, mas também Brasil.



EU, O POETA

Não nasci para a poesia
Mas naveguei os setes mares do saber
Andei pelos cinco continentes azuis
Amei várias donzelas
Não me casei com nenhuma
Pisei na terra quando estava na lua
Sonhei acordado
Fui louco, ébrio ou soldado
Débil numa terra varonil
Fui ferido pela espada
Segui aquela estrada
Que não leva a lugar nenhum.
Fui templo da solidão
Lutei pela vida e pela arte
Pelo vinho e pelo pão.
Travei diversas batalhas
Perdi a mais fácil
No circo fui marinheiro
No mar, palhaço.
Nas mil e umas noites fui boêmio
Fui servo, quando me queriam supremo.
E assim a minha doce rebelião
Se perdeu na juventude de um poeta efêmero.




O POETA E A CRUZ


O Poeta não amou a sua poesia
mas todas as mulheres do cavaco
e o som reticente dos copos vazios.
Foi fogo, onde deveria ser montanha
ébrio, quando deveria ser astronauta
abalou o mundo com gestos
não com palavras
fotografou o invisível
mas não alcançou o possível
tornou-se Saddam
quando lhe queriam Capitão América
casou-se com Joana
mas amou Maria
e morreu de ponta-cabeça numa cruz.




DIÁTESE

Sofro da influência literária pessoana
da manifestação poética parnasiana
da tropical musicalidade caetana
da sólida fragilidade urbana
da cultura tecnológica contemporânea
e da atonia pujante na melodia baiana.
A minha lírica reflexão
formula um concretismo abstrato
destilando a pura forma lusitana
e a escrita fantástico-realista saramaguiana
mesclada da simplicidade equilibrada
na arte neoclássica davidniana
e das insólitas analogias ego-profundas
da surrealista vasconceliana.
Tropeço diante das versificadas esquinas paulistanas
da metafórica dialética nerudiana
da internacionalização cultural
na sociedade sul-americana
e da feminina brasilidade coerente
na composição de Chico Buarque de Hollanda.
Sucumbo espiritualmente
ante a dicção da língua suburbana
da metamorfose pseudo-fundamentalista
na vil realidade cotidiana
e formulo versos que procedem,
segundo a ordem satírico-gregoriana,
das diatônicas seqüências ordenadas
no improviso giriesco da poesia marginal
e na retórica amorosa da palaciana.



CANTATA CECILIANA

Além deste jardim
Estão os restos mortais
Do nosso amor sem fim.

Aqui dentro de mim
Tem o aroma da rosa
E o branco do jasmim.

Veio o ventre da vitória
Brilhou uma luz na aurora
Cegou-me olho e memória.

Veio a vida vitoriosa
Brotou-me o verso e a prosa
Feriu-me o peito, a espora.

Veio o vento da vergonha
Subi escarpa e montanha
Trouxe a morte, a cegonha.

Além de ti e de mim
Outras vozes ecoam
Cantatas cecilianas.

Aqui neste jardim
Sinto o cheiro da rosa
E a morte da alva, enfim!


VILLA IMPERIAL

Na Rua Grande
próximo à Praça da República
junto à casa Henriqueta
na Villa da Victória
ao raiar da centúria
uma alma penada
teima em viver à sombra
do velho pinheiro, que já não existe
enquanto cavaleiros passam sem perceber
que ali jaz o espectro da nossa história.